Nós, os coxos.

" - Não admira que haja tanto ódio entre eles.

- Não é ódio...

- (...)

- São preliminares. "

                        Episódio de 24 Novembro

 

( Roubado daqui por aqui. )

Como é que não nos lembrámos disto???


imagem roubada aqui















Será a isto que chamam pés-de-cabra?

A vida em A4

Há uns anos, depois de ter usado uma procuração de um casal inglês para lhes comprar uma casa, registar a casa, pagar os devidos impostos e tratar das picuinhices todas que a compra de uma casa implica, dirigi-me a uma Câmara Municipal para fazer o contrato da água. Atendimento personalizado, cadeira em frente da funcionária, procuração em cima da secretária e a aventura começa assim que no computador, bicho medonho, aparece o respectivo formulário.
 - Cópia do BI
 - Não tenho. Nem eles têm, que são ingleses. Tenho procuração com números de passaportes.
- Não posso continuar.
Continuou. Esta era simples de resolver.
- Nome dos pais
- Como?
- Nome dos pais
- Han?!!!
- Preciso do nome dos pais do senhor. Está a ver porque lhe pedi o BI? Se o tivesse estava lá isto tudo...
Outra pequena troca de comentários mas um pouco mais surrealista que a anterior. O sistema pedia e o sistema quando pede tem de ser satisfeito. Não foi, o que lhe deve ter provocado um trauma qualquer, e seguimos para bingo.
- Data de nascimento.
- Está a brincar, não está?
- Preciso da data de nascimento.
- A Câmara quer mandar um postal de aniversário, é? 
Soube depois que mandava mesmo e talvez tenha sido o comentário certeiro que me ajudou a sair de lá com o maldito contrato de água na mão. Apesar de não encaixar no "sistema".

Há poucos dias fui inscrever a Clara numas actividades de tempos livres. Primeira entrevista com a psicóloga lá do sítio. Lápis na mão, folha branca em frente e uma catrefada de perguntas na ponta da língua.
- A mãe é casada, divorciada, viúva ou vive em união de facto?
- Nenhuma das quatro, solteira.
- Ah, então é união de facto.
- Não, não é nem união nem de facto, é sozinha mesmo. Já foi, já não é.
- Separada?
- Sem dúvida.
- Mas vou ter um problema. "Separado" é para casados não divorciados...
- Pois não sei, desculpe lá o mau jeito.
- Vamos então caracterizar a família.
(e é aqui que a incauta começa a fazer uns desenhos na folha. Uma bolinha para a mãe, outra para o pai, a Clara outra bolinha no meio das duas e o lápis pronto para seguir caminho)
- Tem mais irmãos?
- 4 (mais quatro bolinhas a sair das outras duas). Só um deles, ou uma delas, é minha filha. O desenho está mal.
- Ah, já percebi, separou-se do pai e ele está junto com outra senhora de quem teve três filhos.
- Não. Dois irmãos são mais velhos e duas irmãs mais novas. Uma delas é filha deste casal, minha e do pai, a outra não.
- Então o pai está junto com uma senhora e tiveram uma filha.
- Não, tiveram uma filha mas não estão juntos.
- Então o pai vive com quem?
(a gargalhada quase que saiu mas continuei a conseguir segurá-la)
- Não faço a mínima ideia.
( o desenho já era uma enorme confusão de riscos, bolas, filhos a sair dos sítios mais improváveis.)
- Vamos rever. O pai, antes de si, viveu com uma senhora de quem teve dois filhos.
- Não. Antes de mim não sei, e não tenho grande interesse em saber, com quantas senhoras (estas "senhoras" todas, eu incluída, estavam a fazer-me comichões) o pai viveu. Antes da Clara o pai dela já tinha dois filhos, cada um deles com uma mãe diferente. Depois nasceu a Clara, a seguir a Francisca, também minha filha, e depois a mais nova, que tem outra mãe e não, não é nenhuma das anteriores. Quantas "senhoras" foram metidas ao barulho não faço ideia tal como só conheço o número oficial de descendentes. Esclarecidas?
- Sim, acho que já percebi, agora só não sei como vou passar isto para o computador....

Esta mania de normalizar tudo intriga-me. Parece que temos uma necessidade secreta de arrumar o mundo em pastas de arquivo e quanto mais diversa é a vida mais se teima em a enfiar num formulário qualquer onde possa ser catalogada. Colámos-nos a determinados conceitos e fazemos a nossa segurança depender deles.
Pai e mãe, por exemplo.
Que significa, hoje, pai e mãe? Ou alargamos estes conceitos de tal maneira que metemos lá tudo, e então temos o pai biológico, a mãe afectiva, o pai de acolhimento, a mãe óvulo, a mãe útero e a mãe que dá a sopa, o pai 1 e o pai 2, o pai que vive com a mãe, a mãe que vive com a mãe que pode ser mãe ou não, o pai que é pai porque é pai do irmão, e por aí fora que os afectos não têm limites e a vida também não, ou cortamos finalmente o cordão umbilical, deixamos de tentar esconder-nos atrás de nomes que não passam disso, nomes, que de tão esticados já quase que desapareceram, e voltamos às origens - a família, seja lá ela como for e venha a criança de onde vier. Afinal nós até temos uma herança cultural que nos devia permitir viver confortáveis sem necessitarmos de estereótipos. Todos nós conhecemos uma família, e muitos até lhe chamam sagrada, que de comum tem muito pouco - Jesus Cristo, filho de Maria, foi concebido pelo Espírito Santo, era filho de Deus mas foi criado por José e acho que não é por acaso que nunca lhes ouvi chamar o pai biológico, o pai afectivo e o pai de acolhimento.
Dogmas da fé? Não sei, mas era uma família, não era? E se era assim há dois mil anos porque raio precisamos nós de continuar a fazer desenhos para entender o que pode ser tão simples?
Temos andado todos a discutir a família quando o que devia estar em discussão eram os famigerados formulários - acabe-se com os quadradinhos, com o Pai, Mãe e etecetras e arranje-se um espaço em branco onde se escreva, e inscreva, a família, porque a vida, a nossa vida, é isso mesmo - um espaço em branco onde tudo pode caber.

Irritações

Já devo ter perdido a conta às vezes que me chateei com coisas destas. É que está tudo muito bem previsto e organizado mas depois há o pormenor que lixa tudo. Malditos pormenores.
Telefonema da escola. Tinha de a ir buscar imediatamente porque estava com febre. 38,3. Ok, isso para ela é normal mas é melhor cumprir o protocolo que vá-se lá saber se é gripe ou não. A gaijinha aparece-me de máscara na mão, acho que na mão as máscaras ficam muito bem, e a destilar mau feitio por todos os poros. Parece que tentou explicar que as irritações, nela, têm imediatamente efeitos no termómetro e que estava muito irritada mas na enfermaria da escola ninguém a ouviu e o diagnóstico foi rápido - Gripe A.

Enfermaria da escola. Fantástico, não é? Até parecemos a Suécia, ou a Noruega, ou um país assim, desses que estão sempre no topo das melhores tabelas. O problema, o tal do pormenor, é que por aqui damos nomes aos bois mas não damos bois aos nomes e a enfermaria da escola tem um nome, uma sala, um termómetro, muitas máscaras e ... a funcionária do bar, que vai lá sempre que é preciso despachar mais um "enfermo". Isso mesmo, a empregada do bar também serve de enfermeira. E acho que foi até uma boa escolha porque podia ter sido o pessoal da cozinha já que a lógica parece ser a do quanto mais arriscado melhor. Mas pronto, foi a senhora do bar quem me diagnosticou a criança entre o avianço de duas sandes. E foi a senhora do bar, com um imenso treino em saúde pública, quem mandou a miúda para a sala de isolamento depois de lhe fazer aquelas perguntas corriqueiras a que todas as miúdas de 12 anos estão habituadíssimas a responder, principalmente quando lhes são feitas pela senhora do bar, porque é normal, digam-me que é normal, que a tipa que lhe vende as bolas de berlim lhe pergunte se está grávida. Aqui está, vindo da escola, um excelente exemplo de respeito pela intimidade dos miúdos. Vão longe, acredito que vão.
Mas pronto, que afinal eu até sei que isto não é a Dinamarca, a miúda veio para casa, levou com o paracetamol da praxe e comecei a tratar da logística. É que a tal senhora do bar tinha-lhe lido a sentença - sete dias em casa ou um atestado médico. Ah pois, o diagnóstico foi feito e se ela quer ir à escola vai ter de provar que não tem gripe (sabem aqueles símbolos da BD que significam uma cabazada de asneiras? considerem que acabei de pôr vários aqui). Ora bem, Centro de Saúde nem pensar que aí sim, arrisco-me a que venha para casa com gripe, portanto linha Saúde 24. Atendimento perfeito, como de costume, gripe afastada, como se previa, mas um pormenor, lá está..., a estragar tudo. "Que dosagem de Ben-u-ron lhe deu?" Sem fazer alarde respondi com um grama de paracetamol. Diz-me que é a mesma coisa. Deixo cair um seco "exactamente". Volta à carga com o Ben-u-ron. Devolvo o paracetamol e aqui já oiço um débil pedido de desculpas. De todas as outras vezes, até ao fim da conversa, que me foi atirado o Ben-u-ron para o colo mandei para trás devidamente corrigido e agora pergunto - a Neo-Farmacêutica patrocina a Linha Saúde 24 ou há aqui outra face daquelas que andam escondidas? É que não me venham com a treta de toda a gente conhecer o Ben-u-ron e muita gente não saber o que é Paracetamol porque se a razão para o uso de uma marca comercial é essa eu digo que Tylenol, Panasorbe ou Panadol não ficam atrás do Ben-u-ron em popularidade e fazem exactamente a mesma coisa.
Picuinhices minhas, eu sei, mas por alguma razão me dizem que tenho mau feitio.

A simplicidade desesperante ou como ficar viciado em menos de um ai

Chamam-lhe "O jogo mais difícil do mundo". Um quadrado vermelho, umas bolas azuis e temos o nosso dia, ou os nossos dias, estragado. Aqui em casa não conseguimos passar o primeiro nível e ainda há mais vinte e nove pela frente.
Lembram-se do Tetris e de sonhar com peças coloridas a cair do céu? Este é pior, muito pior. Se quiserem, mesmo mesmo, deixar de ter vida própria passem pelo supermercado, comprem mantimentos qb, arranjem uma almofada confortável para a cadeira, despeçam-se dos amigos e família e depois, só depois, arrisquem clicar aqui. Boa sorte e até mais ver.

A terra a quem a trabalha

Paulo Portas defendeu hoje que os polícias deviam estar representadas na comissão para a revisão das leis penais e António Ramos, presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia, fez coro com ele considerando "muito importante haver alguém na comissão com conhecimentos do terreno, com experiência do dia-a-dia".
Pois é, os senhores até podem ter alguma razão, mas são pobres a pedir. Se querem experiência e conhecimento de causa chamar a polícia não resolve. Parece-me que seria muito mais produtivo contratarem dois ou três ladrões (dos oficiais, claro!). É que basta pôr os olhos neste mundo virtual para se perceber que expert em segurança não é quem guarda a porta mas quem a consegue arrombar  - hacker que se preze tem emprego garantido, não tem?

Não há pachorra.

Foi há uns anos. Ela vinha com cara de caso e foi-me logo informando que o que tinha para me dizer era sério, que a Francisca tinha passado todos os limites e que eu tinha de a castigar. Então não é que a miúda, com oito ou nove anos, tinha tido a ousadia de escrever no diário que ela, a empregada, era mentirosa e parva? Isto era gravíssimo, como decerto eu compreendia, era uma falta de respeito que comprometia o seu bom nome e tinha sido o irmão, que na altura estava lá em casa, quem tinha apanhado o diário, lido e de seguida lhe tinha mostrado as provas do crime. Preto no branco.

Ainda me lembro, e muito bem, dos berros que dei. À empregada, ao irmão, à empregada outra vez, ao irmão e por aí fora até me dar por satisfeita. Com a Francisca, vá-se lá saber porquê, nem toquei no assunto.

Nos últimos tempos este pequeno episódio tem-me vindo à memória. Anda tudo armado em parvo, é?

Suspensão de quê?

Conta que primeiro andou nas obras. Não se entendeu com os tijolos e mandaram-no embora.

A seguir tentou a tropa. Não conseguia acertar o passo e recebeu ordens para ir marchar para outra parada.

Acabou por descobrir a profissão certa. Anda por lá há anos, o que só pode querer dizer que é bom.

Dedica-se a contar histórias. Estas e outras.

É professor.

De matemática.

Da minha filha!

Não é uma promessa

mas quando chegar da praia – sim, praia, aquele sítio com areia e mar onde se vai em dias como o de hoje... – vou tentar ler e comentar tudo o que os meus meninos e meninas escreveram ali para baixo.

(Já vos disse que gosto muito de vocês? E já vos pedi desculpa por vos ter abandonado tanto tempo?)

E tenho andado assim, a acordar a estas horas improváveis

Dizem que as alterações do clima nos afectam sobretudo a nós, mulheres, e eu quero crer que têm razão. Aqui, neste Sul onde já quase nos esquecemos do feitio da chuva, onde o Sol insiste em brilhar e a relva está cheia de malmequeres, respira-se um ar de Primavera. E se toda a gente sabe que na Primavera se fazem limpezas, não há-de ser estranho que eu tenha passado o último mês a limpar. Foram as limpezas desta Primavera, da outra, da anterior, da que já não me lembrava. Limpei, limpei, limpei, limpei. Não ficou cantinho por virar, gaveta por arrumar, guardanapo de pano por corar, sapato por escovar, caixa de memórias por abrir. Saíram dezenas de sacos de lixo e muitos quilos de pó mas ontem cheguei ao fim. Da pior maneira, mas cheguei.
Ontem foi o dia dos livros. Estavam limpos, faltava serem arrumados. Eu sabia, bastava-me ter andado estes anos todos a observar de longe o lento Outono das estantes, que iria ser tarefa sofrida mas nem nos meus piores dias pensei que poderia ser tão mau. Eu sei que a culpa é minha, eu sei que vou ter de escrever cem vezes, mil vezes, em letras maiúsculas para não esquecer, NUNCA MAIS EMPRESTO UM LIVRO!, mas não tinha de ser castigada assim. É que eu gosto deles. Gosto de saber que os tenho por aqui, de os abrir, de os reler, de lhes olhar para as capas e de lhes lembrar as palavras e fico desesperada quando não os encontro. E não os encontrei.
Não encontrei nenhum dos três cafés do Álvaro Guerra, o Saramago, todo o Saramago, emigrou, o Sancirilo do Pires Cabral deve andar a fazer milagres por outros sítios, e desapareceu o O Meu Pé de Laranja Lima, velhinho, com dedicatória do meu pai na primeira página e a data esquecida do meu exame da 4ª classe. (Maldita a mão que o levou.) E tantos, tantos outros que me faltam. O John Le Carré quase todo, do Tom Sharpe restam dois e o Wilt não consta, do Evelyn Waugh foi-se o Scoop, o Ente Querido e o Reviver o Passado em Brideshead. A Sangue Frio, do Capote, encadernado a couro verde, deve estar desaparecido em combate, tal como todos os do Hemingway, os Vargas Llosa, o Cem Anos de Solidão, lido de seguida, pela primeira de muitas vezes, na rede do jardim, por baixo da romãzeira, na tarde da véspera do exame de Filosofia do 12º ano. Foram-se O Macaco Nu, do Morris, o Mitologias, do Barthes, A Peste e o Cadernos, do Camus e do Kafka nem o América, o livro inacabado que não deveria provocar grandes paixões, respondeu à chamada. Os dois volumes do Guerra e Paz, que desde os meus quinze anos correram as várias prateleiras com uma fita de seda vermelha atada na página onde fiquei, devem ter desistido de algum dia serem lidos e foram para outras paragens, talvez acompanhados pelos outros clássicos em falta já que o Père Goriot, A Mãe, o Rei Lear e o Dr. Jivago estão também desaparecidos. Suspeito, mas isso é coisa minha, que a culpa deve ser do Pepe Carvalho. O tipo apanhou-me distraída e acendeu a lareira com livros, como lhe é costume, mas desta vez usou os meus. A seguir pirou-se, talvez atrás dos Pássaros de Bangkok, porque do Manuel Vasquez Montalban não encontro um único policial. Também não encontro o Bruce Chatwin, mas esse deve estar a fazer mais uma viagem e tenho esperança que volte a bom porto.
Na Banda Desenhada é melhor não meter muito o nariz, que a razia foi ainda maior. O Astérix o Gaulês, o primeiro de todos, foi-se, e A Foice de Ouro foi-se também. Os volumes encadernados das revistas do Tintin, do 1º ao 9º ano, que as outras, espero eu, ainda estão em monte na garagem da minha mãe, foram ali e vinham já mas este já tem mais pó que a múmia do Tuntankamon. E, por falar em múmia, também não aparece As Sete Bolas de Cristal e até o Huckleberry Finn teve a ousadia de deixar o Tom Sawyer sozinho na estante.
Tantos livros que me fazem tanta falta. Eles são parte do meu mundo e hoje, que sei que não os tenho, sinto que me levaram um pedaço de mim. E serão estes, os desaparecidos, os primeiros a serem comprados porque me fazem muito mais falta os livros que já li do que aqueles todos que nunca entraram na minha vida.

Ou então.... Parece que estamos quase no Natal, não é? Se quiserem, se tiverem a gentileza, a simpatia, a vontade de me verem feliz, podem fazer uma colectazinha e oferecerem-me alguns, não podem?

(Voltei.)

O PATRIOTA

Se há coisinha que se me dá na nervura e me irrita e até se me faz quebrar o jejum bloguistico - auto imposto em mês de testes – é a falta de respeito a que A Portuguesa acabou de ser submetida. Só por isso, espero que a selecção enfie a bola de futebol, os bancos dos suplentes e tudo e tudo e tudo, incluindo as luvas dos guarda-redes, por todos aqueles belíssimos orifícios posteriores bósnios.

Os outros andem ai



Não se esqueçam

Sem fazer de conta

São escolhas que fazemos. As decisões que tomamos, sempre em função dos interesses que preferimos acautelar, influenciam o rumo do que no futuro teremos para decidir.

E às vezes fazemos escolhas erradas, muitas vezes influenciadas por algo em nós que tentamos disfarçar a custo com um sorriso simpático ou com gestos que possam iludir os outros quando nos topam os lados menos bons. Nem sempre com sucesso, pois as evidências acabam por saltar à vista quando não conseguimos reprimir o impulso primordial, aquele que nos trai.

São opções que abraçamos. Escolhas que fazemos em função de circunstâncias e da simples satisfação de interesses pessoais. Apelos individuais que constituem um direito elementar e nos permitem seleccionar os actos e as palavras de acordo com a consciência que tivermos ou o valor que atribuímos aos dois lados da balança de que nos compete ser o fiel.
Barramos a imagem com o doce do mel, mas depois escapa-nos a tendência inata, o descuido que destapa a careca que alguns se esforçam por esconder.
Implantes que não conseguem evitar a dura realidade que sustenta qualquer verdade que camuflemos por detrás de uma fachada qualquer.

À mostra, quando aquilo que se quer não corresponde ao que se pretendia revelar.
E depois caímos do pedestal...

Para começar a semana com genica!

Desconhecia por completo a modalidade!
Ainda bem, é sinal que o mundo não pára de me surpreender!
Certifiquem-se que conhecem um bom ortopedista, que têm o
seguro de saúde em dia, agarrem a bicla e desfrutem...

O preocupante paralelo que é falado em português

Enquanto uma parte da população brasileira se entretem com este tipo de linchamentos de atitude e em Portugal os assuntos da moda giram em torno da corrupção e do futebol (e vice-versa), entendemos a proximidade dos dois povos irmãos naquilo que partilham de pior.

À óbvia decadência portuguesa, expressa na progressiva tendência para abdicar de um futuro feito pelos de cá, correspondem os sinais de que um país que nasceu em plena comunhão de Histórias com o nosso está a descambar para um caminho ainda pior.

No meio disto tudo, meia dúzia de idiotas ao estilo Maitê esforçam-se por separar as águas com as suas palhaçadas pseudo-nacionalistas tentando forçar uma distinção que, na prática, se resume cada vez mais às questões de pormenor associadas às diferentes ascendências, às variadas influências, aos percursos alternativos que o acaso e tudo aquilo que a História resume determinou.

Mas a verdade que despontou, nesta fase do caminho das duas nações, é a de que algo de profundamente errado está a acontecer.
O Brasil está a mudar para pior. E Portugal, que tanto o determinou, não constituiria nesta altura o melhor exemplo a seguir.

Cadê os outros?

Parole parole

Existem palavras que, de tão feias, jamais poderiam ser aplicadas a “coisas de gaija”. De facto, não são feias, são escabrosas! Algum dia lembrou a alguém aplicar vocábulos como urinol, mictório ou coquilha (nem acredito que escrevi isto!!!) a nós? Nunca poderíamos ser associadas a tal léxico! Uma gaija usa lingerie finíssima, trata o cabelo e a pele, usa bons cremes, distingue perfumes de Verão dos de Inverno, gosta de seda e de caxemira, de uma cama feita de lavado com lençóis de linho bordados á mão! É verdade que também usa botas de montanha, mas não parte para uma caminhada como se tivesse acabado de acordar no meio de um ninho de cucos…

Existem uns seres do sexo feminino, umas gajas, enfim, que de tão azedas só as imaginamos com cuecas imensas e t-shirts de poliéster. Não digo que essas não almejem usar (certamente não lhes ficava mal) as tais coisas mencionadas acima, mas lá está, não são gaijas!

Pénis. Pénis também não é uma palavra bonita! Talvez por isso tenhamos optado por chamar pirilau à coisa…

Afinal havia outro...

Poizé, o nosso Visconde tem um homónimo aqui e o jovem até é lagarto e o seu ano do zodíaco é... cabra.

Não há direito...
(o outro também tem 30 anos e assim)

NA PELE DE TERCEIROS

- O tipo é um hipócrita. Disse-me uma coisa e depois foi dizer outra a terceiros.

- Então não é hipócrita, é aldrabão...
- O tanas! Diz-se meu amigo mas depois mente de forma descarada. Isso é hipocrisia pura!
- Nesse caso é hipócrita e mentiroso...
- Poizé! E há anos que lhe aturo isto, nem sei porquê. E ainda por cima diz às pessoas que só me mente para não me dar desgostos nem ter que se aborrecer comigo.
- Então é hipócrita, aldrabão e cobardolas. Mas tu não gostas do gajo? Disseste-lhe que sim ainda há pouco...
- É só para não ter chatices, pá...

Determinação!

SANTO KLAUS

Numa prenda de Natal antecipada para a União Europeia chantagista que tem imposto à revelia ou pela força da insistência o tão falado (mas pouco divulgado) Tratado de Lisboa, a República Checa prepara-se para vergar ao peso da maioria depois de isolada da restante carneirada (como a portuguesa, que dispensou o referendo).


Mais um passo dado no (bizarro) sentido de uma União que já tresanda fedor(ação).

Verão em qualquer lugar

Uma árvore despida. Toda nua, apetecida. Pelo olhar que a percorre mais a imaginação que o socorre para conferir, a tudo quanto o olhar não consegue despir, uma visão alternativa.

Uma folha caída. No chão, como a roupa despida. À pressa, pelo vento, ou pela mão tresloucada num momento de tesão.
Uma árvore que não dorme porque não conhece o sono.
Um olhar que não se conforme com a aparente placidez de um Outono.

Bom dia! Vai um cafézinho?

Só a mim...

Como já vai sendo hábito (se não é, faz de conta), a repórter do Árctico apresenta-se ao serviço sempre que as intempéries nortenhas o justificam.
Foi ontem largamente noticiado tanto pela Protecção Civil como pelo Instituto de Meteorologia e por fontes de referência, que tinha sido accionado o alerta amarelo na Nação em particular e na Região Norte em geral. Estavam previstas chuvas e ventos fortes que faziam lembrar o dilúvio e suspirar por Noé!
Esta manhã calcei as galochas, vesti as calças da pesca, o impermeável de plástico com carapuço, atei as correntes com as bolas de chumbo aos tornozelos e fiz-me ao caminho, rumo às casas sem telhas, às árvores tombadas, aos galhos espalhados, aos guarda-chuva desfeitos, endsoion…
Quis a divina providência que não passasse do terraço, de onde fugi a correr, rezando fervorosamente a todos os anjinhos para que nenhum vizinho apreciador de uma bela manhã de Sol me tivesse visto!

Aguardei até agora, mas o Sol ainda brilha e a temperatura não baixa dos 20º...

Eu, pecador, confesso sempre...




Sempre me fascinaram os temas polémicos, nomeadamente aqueles para os quais da discussão nunca nasce a luz.
Não falo da Criação do Universo, da existência de Deus ou do caso das escutas em Belém (só para manter a coisa no domínio do místico e assim). Falo de assuntos cujo esclarecimento depende, em última instância, de um consenso quase impossível de obter.

Claro que a ilustração desta posta já levanta a ponta do véu (adoro estas frases feitas de ampla divulgação, facilitam imenso a vida à malta que escreve e à que lê), permitindo um vislumbre de uns dos tais temas que me atraem precisamente por se revelar quase sempre inócuo o respectivo debate.
Sim, a questão da fidelidade. Aí está algo que mexe de forma distinta com cada um de nós, na cultura, na sensibilidade, na religiosidade, na experiência de vida e em tudo o que nos inclina para esta ou aquela posição (passe o trocadilho subjacente) ou mesmo para uma actuação que, de um modo geral, é tida por censurável.

De pouco interessa a minha opinião na matéria, acreditem, tendo em conta que este fascinante silenciador de mesas de café (sobretudo as que incluam pessoas sem pila) em nada depende das opiniões individuais seja de quem for. Quero com isto dizer que qualquer conversa séria acerca da cena acaba por colidir com uma reacção extrema por parte de qualquer interveniente na mesma, precisamente por se enquadrar numa forma específica de sagrado que é aquela que diz respeito às nossas convicções instintivas (e algumas racionais, também).
E não existem duas interpretações exactamente iguais acerca da fidelidade e das suas motivações ou, pelo contrário, das múltiplas tentações que a ameaçam.

Certa é a perturbação global que o conceito em si parece acarretar, bastando para isso deitarmos uma vista de olhos para a multiplicação de crimes passionais, de divórcios com base no adultério provado ou de depressões directamente provocadas pelo conflito interior (e não só) em que mergulha a maioria das pessoas quando apanhadas no vórtice deste furacão emocional.
O ciúme, o principal sustentáculo prático da contestação enérgica à infidelidade, alimenta sozinho todo um desvario que se apodera de quem se sente ou se sabe "traído" (as aspas visam apenas relativizar o termo, pela sua carga tão pesada, e não minimizá-lo, por respeito a quem sinta as coisas dessa forma).
É impossível abordar a (in)fidelidade sem incluir o papel desse sentimento inexplicável à luz de qualquer lógica razoável mas presente por inerência em qualquer conversa ou pensamento acerda da questão.

A questão é a que nos confronta quando tentamos perceber porque somos ou não fiéis a determinada pessoa. Para alguns é uma opção inevitável porque sim e não carece de explicações, nem que seja apenas sustentada pelos dogmas românticos mais tradicionais. Para outros, mais existencialistas, é um absurdo que assenta num conceito medonho de "propriedade" de alguém, de uma autoridade sobre o corpo e as decisões de outrém que amor algum pode justificar.
E entre estes extremos opostos podemos encontrar uma gradação infinita de escolhas que derivam tanto da força das circunstâncias para os que falham no cumprimento do alegado dever de parceiro numa relação como da determinação dos que conseguem (sim, ainda deve haver uns quantos) manter-se firmes na intenção de não falhar ao compromisso que pauta a maioria das ligações amorosas entre as pessoas.

Depois ainda entra a jogo a dificuldade de discernir entre o certo e o errado nas opções disponíveis, sobretudo para as pessoas sem um juízo moral, sem um condicionalismo religioso ou outro que lhes facilite uma decisão na matéria. Não é pacífica, tal definição, quando pensamos a coisa em termos românticos e depois a avaliamos do ponto de vista mais isento que recorre aos factos (a infidelidade às escondidas também vale para a contabilidade da realidade tal como é e sempre foi) para provar uma tendência mais ou menos generalizada para "pecar" dessa forma.
Tudo isto mais o que faz parte da nossa reacção instintiva, a tal que o ciúme instiga e nem sempre se coaduna com a nossa posição teórica, eventualmente muito liberal, acerca da coisa.
Isso ou instinto de posse ou seja o que for que nos conduz ao putedo quando nos sabemos (ou julgamos) "traídos" ou, pelo contrário, nos permitimos "trair" alguém.
E claro que o conceito de traição dependerá em absoluto de contornos tão variados como o da verdade exposta a nú ou o das motivações desse acto que tanta celeuma e desfechos negativos tem provocado ao longo da História...

Teria que arrastar este lençol até um ponto insustentável para poder adiantar algum contributo para o tal consenso que me cheira impossível, mas queria apenas deixar-vos umas pistas, um ponto de partida para a reflexão acerca de algo que podemos sempre considerar secundário por comparação mas acaba por estar presente na nossa vida e nas dos outros em muito mais ocasiões (mesmo as não consumadas) do que nos atrevemos a admitir.


E se assim se justificar, não me importo de escrever mais alguma coisita...

O Bom Jesus


Foto daqui