É que dá-lhes forte e feio.

Tem o título de "Crise Sistémica?" mas podia chamar-se As Farpas que também era adequado. Estou a falar do artigo de opinião assinado pelo Mário Soares e publicado hoje no DN.
Com todas as qualidades e defeitos que lhe reconheço, sempre gostei do Soares. É inteligente, é arguto e arrogante, é uma besta e é um amor de pessoa. E é capaz de escrever um artigo inteiro a arrasar o Socrates e o novo PS sem nunca chamar os bois pelos nomes.
Olhem estas pérolas:

... a Esquerda europeia, que nos anos 70 e 80, dava cartas na Europa, com líderes da qualidade e coragem de Willy Brandt, Mitterrand, Schmidt, Callagham, Olof Palme, Kreisky, Felipe González, Nenni e Craxi, após o colapso do comunismo, começou a perder terreno e a deixar-se "colonizar" pelo pensamento neoliberal de Blair e Schroeder e da chamada "terceira via" (hoje desacreditada).

Se tivermos em conta a evolução - e o desnorte - dos partidos de Esquerda, nos grandes países europeus - o SPD, na Alemanha, o New Labour, no Reino Unido, os socialistas, em França, a "nova democracia", na Itália, para só citar os maiores - constatamos facilmente o declínio dos partidos que se reclamam da social-democracia, do trabalhismo, do socialismo democrático e da própria Internacional Socialista, cuja voz, hoje, quase deixou de se ouvir.

É preciso, pois, repensar a Esquerda reformista, na perspectiva de fazer face, com êxito, à crise e de encontrar outro modelo económico, social e político ... para dar um novo élan à Europa (paralisada), responder à angústia e ao pessimismo dos cidadãos, quanto ao futuro, reforçando a justiça social. Voltar aos valores éticos - que foram sempre bandeira da Esquerda -, ao civismo (contra o enfraquecimento dos Estados), contra as sociedades de mercado e dos negócios pouco transparentes, lutar contra a corrupção e o tráfico de influências. Voltar à militância em favor da paz e das negociações para resolver os conflitos, lutar contra a precariedade do trabalho, contra as desigualdades, a injusta distribuição dos rendimentos, pela inclusão social, contra a degradação do ambiente e pela ordenação do território. (... ) E velar para que as mulheres e os homens de Esquerda, que cheguem ao poder nos Estados ou nos partidos, sejam pessoas impolutas, que saibam distinguir os negócios privados do serviço público.

Foram os lobbies dos interesses, a imoralidade dos dirigentes dos bancos e das empresas, as grandes negociatas, envolvendo políticos, e o tráfico de influências, numa palavra, a promiscuidade entre a política e os negócios, que desacreditou a política e nos conduziu à crise em que nos encontramos. Não nos deixemos iludir: o sistema está podre e é preciso mudá-lo.

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