As donas da caverna.

A lenha estava molhada, mas quis acender a lareira. A caixa das acendalhas só tinha uma e as pinhas já se foram há muito. Tentei tudo o que sabia e mais o que inventei. Gastei um frasco de álcool, os suplementos todos do Expresso, as publicidades da caixa do correio e os papéis de rascunho. Chama havia muita, só que era fogo de pouca dura. Consegui uma hora depois, com cola de contacto, mas já foi mais por teimosia que por necessidade.

Matar um mamute com arcos, flechas e umas lanças de ónix nem devia ser difícil. Difícil devia ser acender o fogo para o cozinhar. Se com tantas parafernálias eu não acendia uma lareira, imagino o que seria fazer fogo para o jantar a bater com duas pedras debaixo de uma tempestade de neve.
Dê por onde der, as mulheres ficavam sempre com o trabalho pior, mas nas pinturas rupestres quem aparece são eles. Já vem de longe a ida ao café e o jornal no sofá, que fizeram muito e estão cansados. É que enquanto os Cro-Magnos se armavam em heróis pintando-se nas paredes lá da casa em menos de um fósforo, elas batiam com as pedrinhas para acenderem o fogão.
E, garanto, não devia ser nada fácil.

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